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24.11.09


e o dia passava

O que já se conhece se despreza com maestria.

O que se domina também.

Decerto, não se estranha que a rudeza de um momento possa
acalentar mil léguas de sofrimento, embora já não se saiba quanta
mágua ainda há por vir;
de sofejo,
Contornando.

E o medo, abraça um instante.

Poderia-se lembrar
do homem à cavalo que se vira na infância
a passear tranquilo nas esquinas que nunca se formaram
por que quando era moleque a roça era a casa

E em roça?

E em roça tinha caqui que se pegava fresco e manso
para degustar cada pedacinho de prazer que, inavasivo,
acometia a alma
Em roça...era tudo em forma de caos,
Mas era mais bonito.

E o sentimento de segurança envolto a tanta liberdade.

Agora, é sentir-se preso. Dentro de si mesmo.

E aquela franqueza ferina insistia em ecoar
Na caixa do crânio
na veia salta
No cenho franzido que acompanhava goles a seco.

Aquilo deixava a roça de lado.

Deixava também os piques e as cordas
as cordas, com música, todos cantavam

Dizia a música quando entrar, quando sair...
e o dia passava
E o medo mais hostil era a hora do banho
De parar com a brincadeira

Agora parecia que o escuro havia sequestrado
O roxo vespertino indizível

E um querer de sentir bem longe. Até não sentir.

9.11.09

Ela talvez não passasse mesmo de uma mulher mais uma, cheia de problemas e que sabia disso; e que por isso também talvez espantasse os homens. E mulheres. Seu grupo de amigas de fato era restrito. (De todos não os são?). Duas dúzias seria um número grande, bem grande.(continua)

30.7.09

"Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda."

Clarice Lispector
"Acordei hoje com tal nostalgia de ser feliz. Eu nunca fui livre na minha vida inteira. Por dentro eu sempre me persegui. Eu me tornei intolerável para mim mesma. Vivo numa dualidade dilacerante. Eu tenho uma aparente liberdade mas estou presa dentro de mim."

Clarice Lispector
"...Respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver."

Clarice Lispector

27.7.09

Abandonei a frieza
que me acolheu após a morte
Encontrando atalhos desconhecidos
Fugindo do tédio da solidão

Que importam
bravuras de uma independência insana?
Esvaziando os sentidos
Amordaçando novos caminhos?

Encontrei, pois, a loucura
Cercada de medos idiotas
Impune ao crime de se furtar

Deitou-me nos braços
A morte
novamente.

O teto bem branco, os olhos vidrados
A mente vazia
Horas em minutos,
dias em segundos

A vida não segue.
Sobrevive.

19.7.09

A solidão, embora exaustiva, é a única saída para o encontro de novos caminhos.

15.7.09

inservível pensamento

A idéia de que ela
Ainda que discreta
[como retira-se o outono quando chega a invernia]
pode tornar-se apenas imagem atrás de minha retina
retida
e que, distantes,
seus doces olhares
deixarão de encontrar os meus
não me entrega à credulidade da vil
ausência

O inservível pensamento em derredor
que amedontra o sorriso inocente
reflete funestos semblantes que me habitam
e entristeço.

Outrora, a vida era pura
e os horizontes arredios já deitados
protegiam nobres flancos de alvura

Auroras nasciam fartas de cor
espalhadas por um tempo que
nunca terminou

...eu te encontrei e te perdi.

14.7.09

É preciso uma noite
A deslizar pelas lembranças
e só por elas
existir

Nefasto o esforço e insone
é o dia e a noite que se seguem
Na estranha alegria de fugir-te
para te encontrar
e parecer-nos que um momento durou
uma vida inteira.
A recompensa pressupõe o esforço.

9.7.09

loucura

Frente à vida que despedaça
Imagens perfeitas da ilusão acolhedora
Procuro o alento de cada instante

Há um halo de odores revolvidos
são lembranças já guardadas
não lembradas...

Quedo, ás vezes afundo, em um poço
de mim mesma
E lá permaneço

Se sobrevivo,
Quase me esqueço

Horizontes levantam-se em maestria
velando desdenhosos
meu declinar

A espera do por-do-sol
conto o tempo
Procuro a escuridão envaidecida
E me escondo

Volto ao porão de minhas máguas
Repito meu rosto em cima dos joelhos
Choro e rio, a fim de nada
desabo em migalhas
enlouqueço...

Vazio

Nobres anseios
Disfarçam
uma vida medíocre
De promessas não cumpridas

E a assim,
despretenciosamente,
desenhada e explícita prisão moral
Se instala
De existir a cada dia,
acordar todas as manhãs
De sorrir sem ter motivos...


Vazio insuportável!
Eu te suplico, pois, que vá embora
O corpo cansado já não pode mais,
A alma perdida agoniza em derradeiro,
A mente confusa implora toda paz.

Nada acontece.

E as pessoas contentes na rua
Me passam alheias a toda dor
Infames felizes pessoas...


[Termino meus versos mais triste]

3.7.09


moribunda

O meu corpo tísico
Embora debruçado ante
As trincheiras da solidão
Não declinará

E a morte cálida de fantasia
E os devaneios que irrompem a alma
Sentirão meu peso no fim de toda queda

Andarei moribunda, talvez
A espreitar alegrias alheias
Do pranto melodioso
escreverei todos os versos
Que encerram o silêncio de uma ausência

Mas não declinará
Este corpo que carrega alma infinita
Alma trôpega, ébria

Precisa caminhar, sobreviver...
renascimento

Faço minhas tuas ações
e progrido

alço vôo no infinito
distante de onde
nunca estive

renasci.

certos caminhos

Faz me rir
o inocente brinquedo
Num jogo de fatos e palavras

e eu conheço certos caminhos
esbarro certos atalhos
desdenho enfeitando
com lírios corais
taciturna e desmedida timidez
que encontro

Roubo teus doces olhares
moça,
que me enfrentam em derradeiro
os olhos que escondem todo o amor
insano

Acomete tua pele macia da permissão de minhas mãos...

30.6.09

clandestina

Entrei sem bilhete
Neste emaranhado de idéias
Invadi sem convite a tua história fechada

A intimidade é cerca latente
Da beleza de cada instante.

Por luas que vi no azul
Em noites que nunca morriam
Por vezes me lembro de novo:

Sou uma candlestina.

Esgueiro a tristeza ao longe
E acolho a solidão num copo de rum
Amargo as paredes ocultas deste porão de navio

Onde terminam minhas noites insones
Cujo destino não mais conheço

Reflito. Acendo um cigarro no outro.

Preciso traçar minha fuga para o mar
autonomia

Desconforto minhas idéias
Me transbordam os rubores e sucumbo
Num mar de olhares
No espaço refeito
Num mundo criado
Os corpos
um só

Confundo imagens,reflexos cristalinos
de águas perdidas em oases divinos
em terras distantes que jamais ousei

E me perco sempre novamente...
[Preciso de autonomia]

Suores fugazes selam pactos velados
E continuo vagando perdida
por estradas que duvidei
e continuo tentando achar
meu necessário caminho de volta.

29.6.09

livre

Retiro as tramas presas ao chão
Em pino esgio que fere o solo

[o evento dura dois olhares
ao som das folhas úmidas da invernia]

e me liberto.

Ganho o caminho penetrando em veredas
Meu rosto sorri
O cabelo me prende aos olhos
Descubro o vento que me abraça em franca corrida

Agora está distante.
Esqueço o que ficou para trás...

27.6.09


Ás vezes meus passos avançam etéreos
Contrariando o meu modo ideal de parecer

Queria não querer
Sentir vontade de ninguém

Queria não querer
queria não querer

Tolice a vida inteira
meu encanto
Pelas dores
Negando alegorias
Donas de todas as cores

Eu me encontrei e me perdi.
Labirinto

Debruçada no telhado da insegurança
Apeguei em mim mesma
E me salvei.

Parei para pensar em todo resto
Em tudo aquilo que me rodeia
E que existe quando não tem você

Na senhora que sempre olha com a cara feia
Porque o sinal está fechado para pedestres
Na briga entre dois flanelinhas do outro lado da rua

Parei para atravessar também.

Por que será parei de ver essas coisas quando te vi?
[É um evento parado mesmo, uns versos só]

Talvez eu fuja do rapazinho que pede um trocado
Quase em silêncio
Saio fingindo que não vi

Amar é andar vendado por um labirinto.

11.6.09

Angústia
desconforto no vão da calçada
Que ameniza as drágeas malditas que enfrento derramar
sobre a língua devoradora

Miragens, enganos como sombra de caverna

26.5.09

hermenêutica

Um inato desconforto solicito
Toda vez que confundo em mim mesma
Raras rimas de efeito duvidoso
Raras frases
que enfrento dissonar

Qual verdade de alta estima
sob a égide da sina
de viver só de si mesmo
deverei triste
encarar?

Se a verdade deve ser dita
O discurso trapaceia entre mil faces
E o texto
Que escolhe uma versão
Trai
em si mesmo
cada vão de lealdade

25.5.09

mapa de cores


Desfez-se em mil cores
O que ficava à parte

e toda idéia horizontal e limitada

Invadi a imagem irreal
o concreto soluto intangível
e mais uma vez me descobri

encontrei seis matizes,
de todas aquelas que pude enxergar
que de longe coalesciam,
que de perto,
jamais se encontravam...

E fui revirando meu mapa de cores
Na dor fui refém
de uma colcha de retalhos
tomei o mundo em minhas mãos
[aquele mundo que acho ser mundo]

e relembrei olhando a legenda:
sou apenas um ponto.






20.5.09


Difusa
Minh´alma encontra infinitos caminhos

Adormecida, resisto caminhá-los
Por entre as veredas que se seguem
Por entre os arbustos que cegos te escondem

17.3.09

"A imaginação é de longe muito mais importante que o conhecimento."

Albert Einstein

14.3.09

Nada existe de nobre em se ser superior a um outro homem qualquer.
A verdadeira nobreza está em ser superior ao que se era no passado.
[Provérbio hindu]
É preciso destilar o silêncio para manter a sanidade.

Um pouco de Deus e do diabo:
Todo mundo vivo é louco!

1.3.09

Ecos

Cinco dias teriam se passado e Cirilo concluiu que ela não voltaria mais.

"Roupas, aromas, a alma: tudo dela havia ficado ali
E os rostos, colados em euforia
e as mãos,
o toque e o sorriso que aquela garota escondeu
desde que se tornara mulher"

A última gota que dobra-se da água é poente
E a tristeza me acomete de toda dor
Um sorriso envaidecido é doente e suspira agonia

A dúvida é uma curva sinuosa de todo amor.

13.2.09

frágil

Sinto-me frágil,
Não quero mais debater sobre os
surdos tropeços nas entranhas da alma
e saber profundamente das relações,
da história das coisas, do caminho dos atos

quero viver
e sentir que a tristeza se esvai
e a beleza e toda a alegria
me transbordam

Simplesmente.

30.1.09


Cinza-opaco
Um painel por detrás das colinas mais escuras
Repousam prestantes, cadeias de prédios
imagens urbanas do fim desta era

Sons avulsos escondem-se entre si
Uns aos outros [ondas confusas que se misturam]
Deprimem e dormem em nossos ouvidos
Por suas almas em expansão
Desdenhosamente
Chamarmos de barulho

25.1.09

isaBelle

Negas a tua própria espécie
Em desdéns ferinos que partem da alma
Partem a alma...

De perto ao longe erguem-se muros entrelaçados
Quais labirintos, são barricadas
tuas defesas
em torno de ti

Eclodem, perdidos,
Claros feixes de luz em pálida fumaça onde, séria,
escondes teu rosto

E aquela canção que soava altiva
Quando eu te via
Nunca mais parou de tocar

Eu alcançava os topos das mais imponentes árvores
De todos os bosques que pudesse imaginar
Eu ouvia o canto dos passarinhos mais raros e doces
que a floresta poderia trazer a mim
E visualizava o vôo experiente que a águia mais antiga ousava sobre os desfiladeiros...

Mergulhei em todos os meus etéreos devaneios
Para esquecer tua beleza
E até tentei dizer por estas palavras

Que não consegui, meu bem...
esquecer o teu rosto nem diante de toda a beleza....